Neste mundo
a situação era injusta, um bicho de sete cabeças que levava a população à
morte, e sem o direito a uma última refeição. Mas a fera foi combatida, não por
um cavaleiro de armadura portando uma espada, mas por uma massa portando uma só
voz. A voz clamou pelos direitos iguais, clamou por liberdade, e assim como a
espada do cavaleiro, rasgou o peito do dragão que atormentava a população e
segurava-os em correntes. A lâmina das palavras chegou ao coração da criatura,
que com a força de verbos imperativos o cortou, e todos tiveram um final feliz.
Talvez não como nos contos de fadas, afinal, a vida real não é perfeita, mas a
revolta deu resultado.
Mas claro,
quando um monstro cai por terra, outro aparece. Todos precisamos de
antagonistas, e nossa sociedade não está longe de tal lei do universo. Mas o
monstro que anda por nós tem várias faces, ora ele é inocente como um coelho,
ora ele é colossal como uma serpente gigante, tudo depende dos olhos de quem o vê.
E esse monstro, que existe desde épocas antigas, cresceu brutalmente nesses
dias, e deu inicio aos dias mais escuros chatos. Os
dias do vitimismo.
Não se pode
mais fazer piada com nada, não se pode mais dizer nada, não se pode nem
respirar direito, muito menos ter certa licença poética que você pode ferir uma
minoria. Não, não sou preconceituoso e nem intolerante com tais lutas, mas
quando elas são coerentes, pois só o que vejo aqui são guerreiros e guerreiras
lutando contra coelhos, e não contra uma serpente gigante. Embora essas pessoas
vejam uma criatura abominável à frente deles. O coelho não machuca, é apenas um
coelho, mas esse grupo diz que todos são vítimas de tal criatura, e por isso
berram para os quatro cantos do mundo sobre sua luta. Com uma lâmina na mão
direita e um escudo na esquerda elas avançam, buscando a morte do coelho branco
mais perigoso de todos, que trará o caos a todos.
É com tal
metáfora que decidi introduzir a era do vitimismo, onde tudo é qualquer coisa
pode ser considerado machismo, homofobia ou racismo. Era em que alguns grupos
sociais, que já tiveram/estão tento sua luta pelos direitos, se sentem
ofendidos com tudo e todos, fechando os olhos ao bom senso e à lógica e
levantando a voz em prol de algo pequeno, como uma série, um filme ou até mesmo
uma capa de revista em quadrinhos! Às vezes até metendo o dedo tão forte, de
modo tão intrometido, que acaba alterando algumas obras de encher os olhos.
Algo que será comentado daqui a pouco neste texto mesmo. Mas enfim, é a partir
daqui que começa a opinião – até então contida – de um apreciador da cultura
pop sobre a sociedade atual em relação às obras deste universo cultural.
Allons-y!
Primeiramente,
começarei apontando algo que não me incomodou, como algumas capas de revistas
em quadrinhos que foram repudiadas pelas feministas e tiveram de ser retiradas.
Mas foram capas simples, sem nenhum significado realmente grandioso, como por
exemplo uma capa que o Milo Monara fez – que o conhece sabe o tipo de arte ao
qual ele é especializado – da Mulher-Aranha, acentuando seu corpo, o que para
tais mulheres mais radicais é um incômodo, porque uma capa de uma revista pode
atrapalhar o seu café da manhã, claro, por que não? Mas até aí tudo bem para
mim, não sou muito fã do Milo mesmo, mas aí veio uma capa que admirei, afinal,
é uma homenagem a um arco de quadrinhos que é admirado por todos, além de
contar uma bela arte. Talvez você já imagine de qual estou falando, e sim, é a
capa que o Rafael Albuquerque desenhou, homenageando o arco Piada Mortal.
Deixe-me sair um pouco da linguagem culta, essa capa ficou do caralho! Foi
transmitido numa arte o medo que o coringa inspira aos outros, principalmente à
Barbara, que sofreu demais nas mãos dele no arco dito anteriormente. Mas o que
aconteceu? Armas foram levantadas, dedos foram apontados, tudo porque disseram
que a capa fazia alusão à violência contra a mulher, ao estupro, um choro
insuportável. Conclusão, o choro estava tão alto, o vitimismo tão gritante, que
o próprio Rafael publicou na rede um pedido de desculpas, cedendo à exigência
pífia delas. Deixe que eu me exalte por um momento. Obrigado. AH, PUTA QUE O
PARIU.
Isto está
ficando um pouco grande, melhor cortar umas ideias e agilizar outras. Gostaria
de gastar minhas palavras aqui para com a série Game of Thrones, que foi o impulso para que eu começasse este artigo, mas já estou tão cansado
desse assunto da Sansa que não comentarei sobre, tirando uma observação: Para
que tanto choro? A série já fez coisa pior. Mas enfim, continuando, ainda na
área do cinema, claro, pois cinema é uma maravilha para todos meterem o dedo,
vamos falar sobre Mad Max – Estrada da Fúria,
que já está sendo tão aclamado pela grande maioria, e é claro, xingado e
criticado pelos que procuram pêlo em ovo – neste processo conseguiram encontrar
uma selva amazônica no ovo. E já prevendo o futuro deste trecho, outro palavrão
será solto no final do parágrafo, continuemos com esta deliciosa dança das
palavras. Todos já devem saber sobre isso, ou pelo menos boa parte dos leitores
deste texto, afinal, links e mais links rolarem o facebook e talvez outras
redes sociais. Pode-se dizer que Mad Max (que foi uma ópera de areia, carros e
morte) tentou ser amigo de todos, mas ainda recebeu saraivada do exercito fresco
de dois gêneros sexuais. Algo que para mim foi o cúmulo, do tipo que faz eu
sentir vontade de enterrar minha cara na terra e gritar de indignação para quem
mora do outro do planeta ouvir. Para quem não sabe da notícia, já pode esperar
o pior na próxima frase: Um grupo de ativistas em direito aos homens fez um
texto criticando o filme e dizendo que ele é uma propaganda feminista e que o
trailer é falso, além de pedirem para boicotarem-no. CARALHO, esse grupo
poderia estar fazendo tanta coisa boa da vida: Escalar uma montanha, lavar
louça (esse ato é altamente reflexível, sempre que o faço saio da pia com
ideias novas), até mesmo ir à Amsterdã curtir o lugar, mas não, decidiram
reclamar da Charlize Theron e sua trupe de mulheres. Voltando à analogia da
espada, em luta de espada esses caras devem atacar com o escudo, por caro
leitor... reclamar disso é pedir pra levar um tapa. Tantas protagonistas mulheres
do cinema são tão badass, como a Tenente Ripley, Sarah Connor, agora tem a
Furiosa, que foi uma personagem excelente no Mad Max. Ah, eu disse acima que o
filme levou tiro de dois lados, ou seja, as feministas atacaram também. Para
ser mais específico, e não injusto com as feministas que são sossegadas, uma
mulher em especial disse isso. Ela alegou que o Mad Max é muito machista, e num
texto que mais pareceu uma arte barroca sanitária – como eu amo as palavras
rebuscadas, ela deu vários argumentos para firmar sua posição, mas o problema é
que, assim como o texto dos homens, cada argumento foi mais incoerente que o
outro. Como que em um filme em que numa cena um homem pega uma arma e ao tentar
matar o inimigo de longe erra dois tiros, e vai lá uma mulher sem um braço e
acerta o alvo com uma bala só, pode ser um filme machista? Pois é, toda uma
selva foi achada neste ovo, e a minha vontade é de dar uma voadora de dois pés
em todo mundo que fica de vitimismo, mas eu fico em silêncio – e quando estoura
eu escrevo um texto sobre, olá, paciente leitor, como você vai?
Eu poderia
falar mais tanto sobre isso, nosso mundo é tão grande, tantas coisas são
lançadas, tantas coisas são criticadas, e nesses dias, tudo é motivo para a
pessoa sentir-se como vítima. “Nossa, a Furiosa do Mad Max tem mais importância
que o Max, isso fere a minha masculinidade”, “Meu Deus! Veja esse pôster do Kingsman em que
mostra as pernas de uma mulher como destaque! Isso me tirou até a fome!”. Mas enfim,
vivemos num mundo chato, moralista, vitimista, e usando uma palavra chula,
porém, ainda mais sincera, vivemos num mundo pau no cu. Um mundo onde coelhos
são dados como serpentes , e esses são atacados aos montes. Cinema, música, séries,
quadrinhos, livros, comerciais, brinquedos, ovos de páscoa Kinder Ovo (Pois é,
tem gente que ficou se doendo por causa de ter o ovo pra menina e para menino),
a diferença de valor do Bis branco para o preto (infelizmente falo sério quanto
a isso), além de muitos outros casos. Assim até dou certa razão para o Ultron e seu plano de destruição em
seu filme.
Sei que este
texto não mudará o mundo. Raramente exponho minha opinião assim, pois sempre
evito chuva de moralistas e discussões desnecessárias. Espero que este texto tenha
lhe trazido alguma reação, nem que seja a mais pura indignação. Afinai, esta é
a magia do discurso. E por fim, quero lhe fazer uma pergunta, caro leitor desta
encantadora realidade moralista: Como seria a reação da internet – principal foco
das espadas levantadas – se algumas obras antigas fossem lançadas hoje em dia?
Será que curta-metragens como Vapor
Willie, primeira animação da Disney, seriam vetadas e o Walt Disney teria
que pedir desculpas por ter feito tal animação? Será que o Sean Connery e o
diretor do Com 007 só se Vive Duas Vezes
teria que cortar do filme todas as cenas em que uma mulher foi seduzida pelo
James Bond? E uma última questão, será que a HQ A Piada Mortal seria tirada do
mercado?
Seja como
for, esse é o lugar onde vivemos. Logo no chão deste lugar terá um rio de
lágrimas deste choro, e seremos quase afogados em frente a um
letreiro de boas vindas em frente à terra dos moralistas, e nele você lerá “Renunciai
à coerência, vós que entrais. Pois esta é a Terra do Vitimismo”.
Meus parabéns pelo texto, ficou foda.
ResponderExcluirRealmente esta um saco essa onda de mimimi que os ditos "representantes" fazem com tudo, sobre o Kingsman (Ótimo filme por sinal) vi muita gente reclamando da Gazelle e suas "pernas" afiadas, dizendo que fizeram um mulher mutilada para que mostrasse que ela era inferior ao homem (???) Mas como se é a mina que toca o horror geral em todo mundo?? Como se ela tem mais estomago que o vilão do filme?? E tem mais, nos quadrinhos onde o filme foi inspirado, ela nem existe, o personagem é um homem, e essa escolha de mudança do sexo no personagem ficou muito bem acertada. No episodio da Sansa, entrei em discussão com muita gente, que estavam indignados por causa do estupro. Fico sem entender o que esse povo queria ver: Uma bela cena de redenção e amor do Ramsay?? Não né...o cara é um pusta sádico, violento e psicopata, eu até acho que ele foi muito educado com a Sansa, visto o seu histórico de maldades e sem contar que o filme é baseado em um universo medieval, e estupro era algo corriqueiro (desculpem gente, mas era sim, não se iludam com filmes do Rei Arthur).
E a Imperatriz Furiosa....ganhou um espaço em meu coração em um dos melhores filmes de ação dos últimos 10 anos.
Enfim, nessa sombria era de vitimização, que esta afetando ate mesmo os quadrinhos, esta cada vez mais difícil ter dialogo e discussões construtivas, pois sempre tem alguém e levanta uma bandeira e quer iniciar uma guerra ideológica.
Ah, e novamente parabéns pelo texto.
Há uma lógica no texto,é válida. Geralmente decisões de boicote estão relacionadas ao que uma determinada maioria acha ser ou não certo,não há uma análise individual do que aquilo representa para o indivíduo em si,mas há uma opinião pronta esperando o alvo;quando encontrado,a opinião é dita por um milhão de pessoas,mas isso não a tornará verdade,apenas tornará essa sociedade inapta a dar um próximo passo,pois não possui indivíduos capazes de pensar por si, sem a influência de fatores externos. Em um dos livros mais impactantes de Ayn Rand,"A Nascente",no fim da primeira parte vemos que um templo construído para exaltação do homem,foi rechaçado porque determinado expoente da sociedade disse que aquilo era lixo;as pessoas não questionaram se o templo de fato suscitava a exaltação do homem,só concordaram com o homem influente que,supostamente,era o mais apto a fazer aquela avaliação,desconsiderando completamente o fato do templo ser algo relativo apenas ao homem como indivíduo,não como um coletivo. No começo da segunda parte vemos um dos personagens questionando Dominique porque ela simplesmente parecia não existir para si,mas para concordar com ele,alegando que ela estava morta e que na sua frente existia apenas um corpo sem vontade própria. Parafraseando o livro:"As pessoas não querem nada além de espelhos à sua volta. Para refleti-las ao mesmo tempo que elas também refletem(...),reflexos de reflexos e ecos de ecos. ".
ResponderExcluirÉ claro,há outras questões. Em uma sociedade onde a razão prevalecesse e a liberdade fosse permitida de fato as pessoas,eu concordaria que no contexto aduzido por você em seu texto,existe muito vitimismo. Mas a sociedade está infestada de parasitas que desmerecem o indivíduo,infelizmente somos guiados por animais gananciosos em posição de poder;nesse caso os "coelhos" são lobos movidos pela fome,uma fome sem um sentido claro para eles,mas fazem por poder,por dinheiro,porque os ajudam a controlar a sociedade,parasitas que impedem e reprimem qualquer avanço que ameace sua política selvagem para obter controle. Há muito mimimi? Com certeza,mas sabemos que esse não é o âmago da causa. Quando uma sociedade cria um monstro,uma força de justiça vem a seu combate,porém,sem uma ação racional,essa força acaba se tornando um monstro irracional a procura de conflitos,não de soluções.